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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

FUTEBOL







O ópio dos povos?
Por Eduardo Galeano (Uruguai)
Em que se parece o futebol a Deus?
Na devoção que têm muitos crentes e na desconfiança que dele têm muitos intelectuais.


Em 1880, em Londres, Rudyard Kipling se burlou do futebol e "das almas pequenas que podem ser saciadas pelos enlameados idiotas que o jogam".
Um século depois, em Buenos Aires, Jorge Luís Borges foi mais que sutil: ofereceu uma conferência sobre o tema da imortalidade o mesmo dia, e à mesma hora, em que a seleção argentina estava disputando sua primeira partida no Mundial do '78.
O desprezo de muitos intelectuais conservadores se fundamenta na certeza de que a idolatria da bola é a superstição que o povo merece.
Possuída pelo futebol, a plebe pensa com os pés, que é o dele, e nesse gozo subalterno se realiza. O instinto animal se impõe à razão humana, a ignorância aplasta à Cultura, e assim o povinho têm o que deseja.
Em troca, muitos intelectuais de esquerda desqualificam o futebol porque castra às massas e desvia sua energia revolucionaria.
Pão e circo, circo sem pão: hipnotizados pela bola, que exerce uma perversa fascinação, os obreiros atrofiam sua consciência e se deixam levar como um rebanho por seus inimigos de classe.
Quando o futebol deixou de ser coisa de ingleses e de ricos, no Río de la Plata nasceram os primeiros clubes populares, organizados nas oficinas das estradas de ferro e nos estaleiros dos portos.
Naquele então, alguns dirigentes anarquistas e socialistas denunciaram esta maquinação da burguesia destinada a evitar as greves e emascarar as contradições sociais.
A difusão do futebol no mundo era o resultado duma manobra imperialista para manter na idade infantil aos povos oprimidos.
Embora, o clube Argentinos Juniors nasceu se chamando Mártires de Chicago, em homenagem aos obreiros anarquistas enforcados no dia primeiro de maio, e foi um primeiro de maio o dia escolhido para dar nascimento ao clube Chacarita, batizado numa biblioteca anarquista de Buenos Aires.
Naqueles primeiros anos do século, não faltaram intelectuais de esquerda que celebraram ao futebol em lugar de repudia-lo como anestesia da consciência.
Entre eles, o marxista italiano Antônio Gramsci, que elogiou "este reino da lealdade humana exercida ao ar livre".

Fontes de Informação: O futebol segundo Jorge Luís Borges




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