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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

ImportaRSE - Florianópolis


RSE

Por ÀngelCastiñeira e Josep M. Lozano, professores da Esade da Universitat Ramon Llull .-(LA VANGUARDIA, 05/09/09):

Em Santiago de Cuba é frequente ouvir o seguinte comentário irônico referido ao mundo laboral: “Elos fazem como que nos pagam e nos fazemos como que trabalhamos”. Pode haver empresas responsáveis sem diretivos e trabalhadores que o sejam? As novas responsabilidades sociais que hoje em dia estão assumindo algumas empresas (RSE) não afetam só a um câmbio de práticas ou indicadores organizativos, senão que requerem também um câmbio de mentalidade de seus membros. Que atitudes e valores pessoais se põem em jogo quando dizemos que queremos trabalhar e de fato o fazemos numa organização socialmente responsável? Nossa crença é que a RSE depende das práticas corporativas, pero também depende duma questão de identidade, o que decidimos que queremos ser.

Construir uma identidade implica sempre um processo. Em ele pomos em jogo nossos valores, o que queremos ser e o que dará sentido a nossa ação. De aí o vínculo inseparável entre ações, responsabilidades e valores. Por isso as empresas responsáveis estão obrigadas a trabalhar sobre seus próprios valores, porque não estamos falando de algo agregado, senão de algo intrínseco a sua atividade. Esta é a razão pela qual as empresas incidem de maneira tão importante nas biografias e o equilíbrio pessoal de seus trabalhadores.

Nos gosta recordar que numa empresa, mais que recursos humanos, existem pessoas com recursos. Estes recursos se ativarão melhor ou pior na medida em que sejamos capazes de integrar às pessoas e seu desenvolvimento no marco de uns valores compartidos. Alguém se imagina a possibilidade duma empresa responsável que não facilite dita integração pessoal? Têm pouco sentido intentar que uma empresa seja responsável se quem a dirigem e trabalham nela não se identificam com as atitudes que fazem possível a responsabilidade. Dificilmente será viável que uma empresa proclame a RSE se, simultaneamente, não leva a cabo um trabalho minimamente consciente sobre os valores em que se baseia sua gestão.

Richard Sennett nos alertou do risco de que certas apologias do câmbio, a adaptabilidade e a flexibilidade, puderam desembocar no desarraigo ou a corrosão do caráter; corrosão que se manifesta, por exemplo, no fato de que muitos profissionais sejam tão capazes de firmar contratos como incapazes de forjar vínculos vitais duradouros. Em efeito, não sempre um currículo brilhante vai acompanhado da capacidade de narrar a própria vida como um itinerário vital com sentido, entre outras razões porque parece que alguns modelos de gestão sonham com desenvolver uma versão pós moderna do homem sem atributos. Porque o que buscam, no fundo, são indivíduos desarraigados, sempre disponíveis, que não estejam marcados por seus vínculos ou por nenhum sentimento de pertencia relacional, social, cultural ou nacional, senão unicamente por sua dedicação à empresa ou pela confusão deliberada – e a miúdo potenciada pela mesma empresa entre sua identidade pessoal e seu perfil profissional.

Dificilmente poderemos ter empresas responsáveis se pessoas que o sejam e vice-versa. Em consequência, devemos perguntar-nos até que ponto o desenvolvimento corporativo da responsabilidade empresarial requere cuidar do desenvolvimento da responsabilidade pessoal. Estamos falando da necessidade de aprender a trabalhar sobre um mesmo e sobre a própria qualidade pessoal. Dificilmente se pode por em prática a responsabilidade empresarial sem uma mínima capacidade pessoal para elaborar as relações e os compromissos que se estabelecem. Isto põe inevitavelmente um novo desafio para as empresas: o desenvolvimento da capacidade corporativa de trabalhar com valores.
Estamos convencidos de que se nos perguntamos com seriedade a responsabilidade chegaremos a fazer-nos perguntas como as seguintes: que tipos de pessoas querem para nossas empresas? que podemos fazer para consegui-lo?, que tipo de pessoa – e de personalidade se está criando em nossa empresa ou se fomenta nela?, que tipo de pessoa – e de personalidade se reconhece e se promove em nossa empresa?, que tipo de empresa é a que não anula sino que fortalece o caráter das pessoas?, etecetera.

Trabalhar com pessoas significa também trabalhar com elas na construção dum caráter? Se a responsabilidade é um valor que estabelece um compromisso, se faz difícil imaginá-la sem entendê-la também como um componente de certa transformação pessoal, porque os processos de câmbio que geram compromisso têm de ser ao mesmo tempo pessoais e corporativos.

Como sinalava o Aspen Instituto, “conhecer-te a ti mesmo” e “conhecer teu trabalho” são dimensões cada vez mais indissociáveis. Por suposto, isto, ademais de importante, apresenta um grande desafio às empresas, na medida em que nos encontramos num contexto sociocultural e empresarial onde a volatilidade a miúdo não se considera só um fenômeno puramente financeiro, senão também um estilo de vida.

Mas, finalmente, nenhuma época escolhe livremente seus desafios.

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